Pouco mais de um ano após a sua muito criticada vitória sobre um Mike Tyson de 58 anos, o norte-americano de 28 anos Paul vai subir ao ringue no Kaseya Center, em Miami, para enfrentar um adversário muito mais jovem – e incomparavelmente mais perigoso – o britânico de 36 anos Joshua.
O espetáculo apoiado pela Netflix, que segundo relatos irá render aos pugilistas uma partilha impressionante de 184 milhões de dólares (cerca de 157 milhões de euros), tem sido alvo de duras críticas, com muitos a questionar os motivos da sua autorização. A British Board of Control afirmou que não teria aprovado o combate por motivos de segurança. Outros pugilistas alertaram que, dada a diferença de nível, tamanho físico e talento, Paul corre o risco de sofrer lesões graves.
No seu combate mais recente, em junho, Paul, com 1,85m, apresentou-se com 90,4 quilos na balança. Joshua, que mede 1,98m, muito acima de Paul, pesou 114,6 quilos na sua última aparição em 2024. Eddie Hearn, promotor de longa data de Joshua, descreveu o combate de sexta-feira como um "desnível catastrófico" ainda antes dos contratos estarem assinados.
Danos "assustadores"
Outras vozes do boxe, no entanto, traçam um cenário ainda mais negro, com o antigo campeão mundial de pesos pesados David Haye a avisar que este combate pode ser "o último dia de vida" de Paul.
Amir Khan, antigo campeão britânico de pesos ligeiros, considera que uma vitória esmagadora de Joshua pode até ter consequências duradouras para o boxe, afastando o público da recente tendência de combates entre celebridades da internet como Paul.
"Acho que isto pode ser o fim dos YouTubers a entrarem no ringue com pugilistas profissionais. Basta um golpe. Uma noite má, um golpe limpo, e alguém pode ficar gravemente ferido. Já vimos como a vida de uma pessoa pode mudar por completo", disse Khan ao Daily Mail.
Khan acredita que Paul não terá qualquer hipótese se Joshua tirar partido das vantagens físicas e da sua superioridade técnica, tal como fez ao nocautear de forma devastadora o pugilista principiante Francis Ngannou na segunda ronda do ano passado.
"O AJ tem mão pesada. É um antigo campeão mundial. Tem potência, tem tamanho, tem tudo. Se acertar em cheio, os danos que pode causar são assustadores. Especialmente quando acerta em alguém como o Jake Paul. Ele não tem capacidade para aguentar esse tipo de potência", afirmou Khan.
Paul, cujo registo limitado no ringue conta com 12 vitórias e uma derrota, incluindo sete nocautes, garante estar preparado para surpreender o mundo, embora reconheça que as suas ambições são "delirantes".
"No boxe, morre-se"
"Gosto de desafiar-me contra os melhores. Vamos para a guerra e que vença o melhor. Cheguei onde estou hoje graças a um otimismo delirante. É delírio até deixar de o ser. Foi isso que me trouxe até aqui", afirmou Paul no mês passado.
Joshua garante que está a encarar este combate com a mesma seriedade de sempre.
"Se for honesto, vou partir-lhe a cara, vou destruir-lhe o corpo, vou passar-lhe por cima," disse Joshua.
É precisamente este cenário violento que alguns analistas temem.
Michael Bisping, membro do Hall of Fame do UFC e comentador de desportos de combate, descarta qualquer hipótese de Paul protagonizar uma surpresa ao estilo David contra Golias.
"Não há hipótese alguma deste combate terminar com o Jake Paul a nocautear o Anthony Joshua. O Joshua tem muito mais experiência. Bate mais forte. É maior. Tem maior alcance. É campeão olímpico. O Jake Paul não vai transformar isto num David contra Golias da vida real. Isso não vai acontecer, e toda a gente sabe disso", afirmou Bisping no seu canal de YouTube.
Bisping alertou que, se Joshua cumprir a promessa de levar o combate a sério, Paul pode estar em perigo.
"Se isto for um combate a sério – e aparentemente é, por isso vamos assumir isso – há uma grande probabilidade de alguém sair magoado, e lamento dizer que não será o Anthony Joshua. O Joshua já enfrentou os melhores dos melhores. No boxe, morre-se. Isto não é um jogo. Não se brinca ao boxe", disse Bisping.