Quando o internacional alemão Jamal Musiala, a 6 de julho, sofreu uma fratura da fíbula (osso da perna) associada a uma luxação do tornozelo após um choque violento com o guarda-redes do PSG, Gianluigi Donnarumma, no Mundial de Clubes, o Bayern Munique perdeu a peça-chave do seu motor, precisamente no centro do meio-campo.
Desde a sua estreia há cinco anos, Musiala demonstrou a sua enorme importância com exibições regulares e decisivas, tornando-se o centenário mais jovem do Bayern Munique, um dos principais marcadores da Alemanha e um criativo de elite, reconhecido pelo drible, criatividade e capacidade de decidir nos momentos cruciais, consolidando o seu estatuto de futuro candidato à Bola de Ouro.
Com apenas seis semanas para o arranque da Bundesliga, o treinador Vincent Kompany preparava-se para soar o alarme em Säbener Strasse, pois o Bayern não tinha qualquer substituto direto para Musiala.
Após 25 anos no clube, mais de 700 jogos pela equipa principal e mais de 20 troféus conquistados, Thomas Müller foi autorizado a sair do Bayern Munique no final da época 2024/25.
Ao mesmo tempo, Leroy Sane, de 29 anos, recusou a proposta de renovação dos campeões alemães e, de forma surpreendente, optou por assinar pelo Galatasaray, por três temporadas. Para além disso, os Die Roten terão decidido não avançar para a contratação de Florian Wirtz, cujo valor poderia ultrapassar os 100 milhões de euros, devido a preocupações financeiras, à vontade de não desestabilizar a estrutura salarial e a uma estratégia de equilíbrio entre grandes investimentos e vendas de jogadores, acabando por perdê-lo para o Liverpool, apesar do forte interesse.
No entanto, quando o desespero começava a instalar-se na direção do Bayern, Kompany encontrou ironicamente o substituto de Musiala precisamente onde o clube, durante décadas, foi conhecido por ignorar: a Academia. A relutância do Bayern em integrar jogadores da formação na equipa principal não era novidade, mas o tema voltou à tona no início do Mundial de Clubes, quando o antigo defesa do Bayern e internacional alemão Marcus Babbel questionou a recusa de Kompany em apostar nos jovens talentos.
Na época passada, os jogadores sub-19 do Bayern somaram apenas 110 minutos pela equipa principal. Se olharmos para os minutos concedidos por outros grandes clubes a jovens talentos e/ou estreantes, o contraste é evidente: o Liverpool deu 975 minutos, o PSG 966 e o Real Madrid 570.
Nesse contexto, é irónico que tenha sido necessária uma lesão grave de um dos seus jogadores mais importantes para que o valor da Academia se tornasse evidente para o Bayern, com Lennart Karl, de 17 anos, a afirmar-se como um dos maiores talentos do futebol alemão e a conquistar um lugar regular no onze titular.
Desde a ascensão de Thomas Müller em 2008, os adeptos do Bayern não viam um jovem alemão formado no clube a tornar-se peça-chave no relvado. Com golos de grande qualidade frente ao Club Brugge e ao Borussia Monchengladbach em outubro, o médio tornou-se o mais jovem marcador do Bayern na Liga dos Campeões e o terceiro mais jovem da Bundesliga.
Menos de um ano depois de Karl jogar nos sub-19, muitos especialistas e adeptos pedem já a sua inclusão na convocatória da Alemanha para o Mundial-2026, sendo a sua ascensão verdadeiramente notável. No mais recente jogo da Liga dos Campeões frente ao Sporting, onde Kompany considerou que poderia ter feito melhor apesar de ter sido eleito o Homem do Jogo pela UEFA, o treinador do Bayern afirmou:
"Ele mantém-se sempre incrivelmente perigoso. Se, com esta idade, consegue criar perigo quatro ou cinco vezes num jogo sem estar a fazer a sua melhor exibição, isso é impressionante". Mas, com o regresso de Musiala iminente, o entusiasmo em torno das exibições de Karl esbarra numa grande questão — “Como é que se coloca Lennart Karl no banco depois do que tem feito?”. Como manter o seu desenvolvimento e motivação sem afastar Musiala, o próximo Matthäus da Alemanha?
Musiala e Karl são ambos médios, mas também podem atuar nas alas, o que cria um dilema de escolha para Vincent Kompany.
Musiala prefere claramente jogar no centro, como médio ofensivo, mas isso levanta um problema, já que Karl também costuma render mais como criativo. E, com Musiala prestes a recuperar totalmente, será Karl a pagar o preço pelo regresso de Musiala? Num clube como o Bayern, onde os resultados e os títulos são sempre a prioridade máxima, parece improvável que Kompany não dê primazia a Musiala em detrimento de Karl.
Para o CEO do Bayern Munique, Jan-Christian Dreesen, o debate entre Musiala e Karl mostra que o clube está no caminho certo.
“Acho esta discussão bastante surpreendente. Lembro-me bem de quando, no final do verão, falávamos regularmente do plantel curto. Disse na altura que um plantel curto oferece grandes oportunidades aos jovens talentos. E agora vimos isso. O Lennart Karl fez um trabalho excecional. A concorrência ajuda sempre a elevar o rendimento global e estou certo de que o treinador encontrará as melhores soluções”, afirmou Dreesen à comunicação social alemã. “É preciso algo especial para manter a motivação durante tanto tempo. Estamos muito satisfeitos por o Jamal já estar de regresso aos treinos com a equipa".
Independentemente da forma como Vincent Kompany resolver o quebra-cabeças entre Musiala e Lennart Karl, o aparecimento de Karl e o sucesso que tem tido em Munique podem indicar o início de uma nova abordagem no Bayern, em que mais jovens terão oportunidade de brilhar. Kompany convocou nada menos do que sete jovens (Cassiano Kiala, David Daiber, Deniz Ofli, Felipe Chavez, Javier Fernandez Gonzalez, Wisdom Mike e Lennart Karl) para o último jogo do ano frente ao Heidenheim, o que pode indicar que o Bayern, no futuro, irá rever a sua estratégia em relação aos jogadores da Academia.