O desafio de Mbappé: ganhar o respeito e a cumplicidade da própria equipa

Kylian Mbappé em destaque no Real Madrid
Kylian Mbappé em destaque no Real MadridAlberto Gardin / NurPhoto / NurPhoto via AFP

Kylian Mbappé poderia ter batido o recorde de golos num ano civil pelo Real Madrid, detido por Cristiano Ronaldo desde 2013. Deveria tê-lo batido. Mas, claramente, os seus colegas de equipa não o quiseram.

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No seu 27.º aniversário, Kylian Mbappé gostaria de ter superado o recorde do seu ídolo Cristiano Ronaldo. Apenas conseguiu igualá-lo, e só graças a um penálti frente ao Sevilha, reduzido a dez jogadores após a expulsão de Marcão aos 68 minutos.

O francês fez tudo para chegar aos 60 golos que lhe permitiriam ultrapassar o português, ao ponto de disputar os 90 minutos do encontro da Taça do Rei a meio da semana frente ao Talavera, equipa da terceira divisão.

Mbappé é um homem de números e essa é uma paixão avassaladora. Quase obsessiva. E seria preciso estar cego para não perceber que os seus colegas de equipa fizeram praticamente tudo o que podiam para que o avançado ficasse pelos 58 golos. É simples: sem o penálti conquistado por Rodrygo, Mbappé não teria marcado no sábado à noite. Primeiro, porque desperdiçou várias oportunidades (17, 18, 48, 50, 51, 58 e 90+5 minutos). Depois, porque, pura e simplesmente, a sua equipa não o quis ajudar. Em várias situações, sobretudo em transições rápidas, os seus colegas recusaram-se a jogar com ele, mesmo quando estava na sua posição preferida, com espaço para acelerar. Com o tempo, mesmo com celebrações ou publicações no Instagram, acaba por ser evidente…

Os números de Mbappé
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O Real Madrid foi muitas vezes um conjunto de egos e são precisos para-raios, tanto no relvado como na equipa técnica, para que isso se traduza em troféus. Não surpreende que o clube tenha mais sucesso na Liga dos Campeões, uma competição onde o esforço é mais concentrado, do que na LaLiga. A geração Ronaldo só conquistou dois campeonatos, prova de que, mesmo com o internacional português, aguentar 38 jornadas foi muito complicado.

Mbappé chegou a um grupo que venceu duas vezes a Champions e três vezes a LaLiga desde 2020. Vinicius Jr marcou nas finais europeias e Jude Bellingham foi eleito o melhor jogador do campeonato logo na sua época de estreia, em 2024. E isto sem falar de Rodrygo, terceiro elemento do trio ofensivo até à saída de Karim Benzema, que partiu com uma Bola de Ouro na bagagem.

Apesar de se ter tornado campeão do mundo antes dos 20 anos, Mbappé nunca conseguiu levar o PSG ao topo da Europa como estrela da equipa. As presenças de Neymar e depois de Leo Messi foram sombras frustrantes. O seu registo estatístico é, naturalmente, muito positivo, pois tornou-se o melhor marcador da história do clube, mas não conseguiu colocá-lo no topo da Europa. Até teve tendência para desaparecer nos grandes momentos.

Os próximos jogos do Real Madrid
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Enquanto a chegada de Cristiano Ronaldo foi obra de Ramón Calderón, a de Mbappé é da responsabilidade de Florentino Pérez, que colocou o francês no topo da hierarquia desportiva e salarial. Ora, quando o português se tornou jogador do Real Madrid, já tinha conquistado títulos com o Manchester United, incluindo uma Liga dos Campeões e uma Bola de Ouro. Mesmo assim, teve de esperar uma época para vestir o emblemático 7, que pertencia a Raúl González Blanco. Além disso, chegou em 2009 num contexto totalmente diferente: o Real Madrid perseguia a Décima desde 2002 e o objetivo só foi alcançado cinco anos depois. Já os atuais líderes merengues já conquistaram duas vezes, sem Mbappé.

As excelentes estatísticas do capitão da seleção francesa foram alcançadas quase sempre sozinho. Um ano e meio depois da sua chegada em grande destaque, Mbappé ainda não conseguiu unir ou encontrar um braço-direito capaz de convencer todo o balneário. Ser o centro das atenções é uma coisa, ser líder é outra. Cabe a Mbappé saber conjugar as duas.