De mero desconhecido a fenómeno nas redes sociais, o Clube Sportivo de Cascais é o nome do momento no futebol português. O clube compete na 2.ª Divisão Distrital da Associação de Futebol de Lisboa, o equivalente ao sexto escalão do futebol nacional, e, como tantos outros clubes do mesmo nível, conta apenas com algumas dezenas de adeptos a assistir aos seus jogos, apesar de estes serem regularmente transmitidos no YouTube, através do canal "We Are Cascais".
No entanto, tudo mudou na última semana. Quis o destino que o algoritmo da plataforma de partilha de vídeos colocasse a transmissão de um jogo do CS Cascais no radar de Valen Scarsini, um influenciador argentino com mais de 350 mil seguidores no Instagram, 670 mil no TikTok e 340 mil no YouTube. O resultado? Um desafio lançado aos seus seguidores: assistir ao próximo jogo do Cascais, marcado para 16 de novembro, e fazer o número de espectadores subir dos meros oito para dez mil.
Em apenas uma semana, o clube ganhou mais de 30 mil seguidores no Instagram, passou dos 200 para 38 mil no YouTube e a meta de Scarsini foi largamente superada: mais de 12 mil pessoas, a grande maioria da América Latina, acompanharam em simultâneo a transmissão no YouTube, com o jogo a ultrapassar as 100 mil visualizações. Um fenómeno!
"Ao início ainda pensámos que pudesse ter sido uma jogada de marketing do clube - e, se fosse, era incrível -, e estávamos mesmo a questionar-nos: “O que é que se está a passar?”. As redes sociais cresceram de forma tão rápida e inesperada que, dentro do grupo, ficámos completamente à toa com tudo o que estava a acontecer. Depois, a direção confirmou-nos que não tinha nada a ver com aquilo, e percebemos que foi mesmo algo espontâneo, vindo desse influenciador. O certo é que tem trazido uma visibilidade enorme ao clube, tanto nas redes sociais como em termos de imagem", explica o capitão Tomás Reis, em declarações ao Flashscore.
"Estamos mesmo muito contentes. Nós, jogadores, temos recebido imensas mensagens de fãs a falar sobre os jogos, a pedir para dedicarmos golos e a mostrar apoio. Dentro da sexta divisão, estamos a viver algo que se aproxima do futebol profissional, pela envolvência e pelo entusiasmo dos adeptos, e tem sido muito giro", sustenta.

"Trabalhamos como se fôssemos um clube de Primeira Divisão"
Com dois mil ou trinta mil seguidores nas redes sociais, a verdade é que basta uma rápida pesquisa para perceber que a forma briosa e o cuidado que o clube tem na forma como comunica com o público não é de agora. As transmissões online dos jogos remontam à época passada e o vídeo de apresentação dos novos equipamentos é digno de fazer inveja a muitos clubes da Liga.
A viver a quarta época ao serviço do CS Cascais, Tomás descreve-nos uma realidade que em nada condiz com a de um clube da sexta divisão.
"Nós trabalhamos como se fôssemos um clube de Primeira Divisão, e sei que pode parecer difícil de acreditar, mas temos condições que muitas equipas de divisões superiores não têm. Usamos GPS, drones, temos analistas, acompanhamento de fisioterapia, controlo alimentar e apoio psicológico. É um contexto muito bem estruturado e sólido, que obviamente exige investimento, mas o dinheiro, por si só, não chega. O método de trabalho tem sido realmente muito bom", descreve o avançado.
"Depois, claro, temos jogadores com muita qualidade para a divisão em que estamos. Existem incentivos, como é natural, mas não é isso que nos motiva - é o contexto profissional que vivemos. Treinamos de manhã, temos todas as condições. Posso dizer, sem exagero, que não nos falta nada. Somos uns privilegiados para a divisão onde estamos. Temos um modelo sustentável que, acredito, nos vai levar até lá acima. Não tenho dúvidas", completa.

"Aquilo que aconteceu foi uma loucura"
A paixão pelo futebol não tem divisão. É com esse espírito que o plantel do CS Cascais entra em campo todos os domingos. Apesar de todas as condições que fazem da equipa um verdadeiro exemplo de profissionalismo, é evidente que ninguém esperava tamanha exposição. Ainda assim, nada disso desviou o foco do duelo com o vizinho e rival Tires.
"Durante a semana, o nosso discurso entre jogadores foi exatamente o mesmo que teríamos se ninguém estivesse a ver. Claro que essa visibilidade extra pode mexer connosco de alguma forma, e sabemos que há muito mais gente a acompanhar, mas a nossa mentalidade foi sempre a mesma: é apenas mais um jogo e foi assim que o encarámos", garante Tomás ao Flashscore.
"Aquilo que aconteceu foi uma loucura, mas, dentro de campo, estávamos super tranquilos. Ninguém estava a pensar nas milhares de pessoas que estavam a ver o jogo. Era um jogo normal. Quando marquei o golo, nem me lembrei disso, para ser sincero. Só mais tarde, já em casa, quando estava a rever o jogo, é que me caiu a ficha", sublinha.
E a verdade é que o melhor marcador da equipa já recebeu algumas mensagens dos (novos) fãs espalhados um pouco por todo o mundo: "Recebi algumas mensagens no Instagram e até comentei com um colega: 'Então, isto é que é ser jogador de futebol profissional?' E ele respondeu: 'Olha, parece que sim.' (risos) Foi engraçado. Não posso negar que sabe bem ter esse apoio dos adeptos. Dá-nos motivação e deixa-nos contentes, sem dúvida."

"Acredito que isto não vai ficar por aqui"
Após o encontro deste domingo, que manteve o CS Cascais no topo da classificação, o influenciador Valen Scarsini, que também ganhou cerca de 50 mil seguidores no Instagram nos últimos dias, mostrou-se radiante com o sucesso da sua iniciativa: “Fizemos história!” E acrescentou: “Isto ainda não terminou...”
"O engraçado agora seria ele vir cá ver um jogo nosso e podermos estar um bocadinho com ele. Acho que seria muito importante, porque foi ele quem deu este primeiro boost e acredito sinceramente que isto não vai ficar por aqui. Ganhar trinta mil seguidores em dois ou três dias é notável, ainda por cima para um clube que tinha apenas três mil", admite Tomás Reis.
"Em relação a ele, somos todos extremamente gratos pelo que fez - foi algo incrível, ainda por cima sem ter sido nada combinado. Estamos muito ansiosos e acredito mesmo que vai acontecer: ele há de vir cá ver um jogo, nem que seja um dos últimos, para nos ver subir de divisão", projeta.
Até lá, o jovem avançado deixa mais algumas palavras sobre o clube que está nas bocas de Portugal… e do mundo.
"O que nós queremos realmente é levar o nome do Cascais mais longe. É um clube situado numa zona incrível e, neste momento, já existe um projeto para aquilo que será o nosso estádio. É um projeto pensado para chegar às divisões nacionais, e eu não tenho qualquer dúvida de que o Cascais vai conseguir", atira.
"O que posso dizer às pessoas é que vamos continuar a dar o máximo. Vamos, com certeza, proporcionar muitas alegrias a todos os que nos acompanham e sentimos, cada vez mais, motivação para encher o estádio. Quem vier ver-nos não se vai arrepender - pelo espetáculo, pelas condições e pela forma como queremos elevar o nome do Cascais ao mais alto nível", conclui.

