Na entrevista, Sérgio Conceição, que em Itália orientou o AC Milan, depois de ter passado por Lazio, Parma e Inter de Milão como jogador, falou do filho, Francisco Conceição, e do trabalho que fez para melhor a forma física do extremo da Juventus.
"Com os meus filhos, falo pouco de futebol em casa, o mínimo possível. O mais importante é que eles deixem os telemóveis no bolso ao jantar. Exigia o mesmo aos jogadores no FC Porto e no AC Milan. O Francisco estreou-se comigo em Portugal. Em 2020, durante a pandemia, disse-lhe 'se tens fome, bebe água'. Ele estava um pouco gordinho e para fazeres a diferença tens de fazer alguns sacrifícios e ter a mentalidade certa", confessou o atual treinador do Al Ittihad.
"Se pudesse, dava-lhe a minha ambição. Não que ele não a tenha, pelo contrário, mas, quando eu tinha 16 anos, tinha de trazer dinheiro para casa para comer. As coisas eram diferentes. Apesar disso, sempre acreditei nele e ele também acredita nele", acrescentou Sérgio Conceição, que lembrou igualmente os sete anos de sucesso no comando técnico do FC Porto.
"Tinha uma relação fenomenal com Pinto da Costa. Quando cheguei, o FC Porto não ganhava o título há quatro anos. Encaixámos 600 milhões de euros com transferências de jogadores e tivemos boas prestações na Champions. E conseguimos eliminar várias equipas italianas, como a Juventus, a Roma e a Lazio", lembrou o treinador português, que recordou também a sua passagem pelo AC Milan, substituindo Paulo Fonseca, onde venceu uma Supertaça italiana, ao segundo jogo oficial pelo clube.
Charuto foi promessa
"Lembro-me de dias de trabalho intenso, focados em análise de vídeo, motivação e discursos para entrar direto na cabeça dos jogadores. Vencemos a Juventus do meu filho Francisco e depois a Inter, de reviravolta. E eu chorei", lembrou o treinador português, que festejou a conquista do troféu com um charuto, tal como já tinha acontecido no FC Porto.
"Os jogadores tinham visto vídeos e pediram-me para fumar se ganhássemos. Já o tinha feito 11 vezes com o FC Porto, ou seja, depois de ganharmos troféus. O treinador que mais ganhou. Então fi-lo de novo", explicou Sérgio Conceição, antes de falar do que não correu bem na sua passagem pelo emblema milanês.
"De 2016 até hoje, apenas dois treinadores conquistaram títulos com o AC Milan. Pioli, com o Scudeto, e eu. Se somarmos pontos do nosso período, tivemos ritmo de Liga Europa. Os resultados estiveram lá. Estou a pensar nas duas vitórias no dérbi e contra a Roma. É dececionante, mas houve coisas que não gostei. O quê? Instabilidade no clube, o clima em torno da equipa não era bom. Por isso, apego-me ao que fizemos. Além disso, a direção não me apoiou. Vou dar um exemplo, depois de ganharmos a Supertaça, jogámos contra o Cagliari. Naquela época, já havia rumores de que o clube estava à procura de outros treinadores. Eu estava focado em trabalhar e vencer, com a pressão dos resultados. Não tive tempo para trabalhar a todos os níveis", explicou Sérgio Conceição, que falou ainda nos jogadores que encontrou no AC Milan, negando qualquer sentimento de traição por parte do plantel.
"Nunca. Estiveram sempre comigo. O Theo Hernández disse também disse isso numa entrevista que deu. Exijo rigor, padrões exigentes e relaxamento quando for hora disso. Se alguém aparece um quilo acima do peso, chega atrasado ou algo do tipo, não tolero. Para mim, no fim de contas, todos os jogadores são iguais", assumiu o treinador português que, antes do AC Milan, recebeu também um convite da Lazio.
"Mesmo antes de assinar com o Al Ittihad, recebi propostas. O campeonato aqui é competitivo, as ambições são altas. É preciso uma adaptação à dinâmica cultural, mas isso é um desafio. Adoro desafios assim", assumiu Sérgio Conceição, que está agora numa realidade diferente, na Arábia Saudita.
"Sou católico praticante. Aqui não posso, mas em Milão ia à missa todos os dias. Há alguns meses, o Papa convidou-me para o Jubileu para partilhar a minha trajetória e dificuldades", confessou Sérgio Conceição, que voltou atrás no tempo para escolher o discurso mais impactante que teve enquanto treinador.
"Em 2012, no Olhanense, estudava as paixões e hobbies dos meus jogadores, algo que faço sempre. Antes de um jogo, no Dia dos Pais, mostrei um vídeo dos pais a a falar sobre eles. Havia gente a chorar, aí entraram em campo e... 2-0 para o adversário. Quando voltei ao balneário, mudei a minha versão e voltei a ser sargento. Empatámos 2-2", lembrou.
